MARCELO GOMES GONZÁLEZ*
*Acadêmico do curso de Licenciatura em Educação
Física Pela Universidade Vale do Acaraú.
A Educação Física brasileira vem se autocriticando no que diz
respeito ao esporte. Já que pode ser considerada uma das áreas que estuda a
cultura corporal dos movimentos e não vem se dando tanta importância dos
benefícios, em sua totalidade, que o esporte exerce sobre o ser humano. Desta
forma, o esporte passa a ser tratado como “fato social total”, pois engloba o
contexto histórico, político e sociocultural, e não só o corporal. Exemplo
disso é uma aula de futebol, onde as regras do jogo, se comparado com a vida
social, dão limites às ações dos participantes, lhes mostrando, principalmente,
regras, valores e penalidades.
A prática de esportes não só propicia benefícios físicos, mas
também constrói valores sociais, o que implica em um melhor convívio em
sociedade. As modalidades esportivas vêm se moldando a cada época. Assim, os
seres humanos criam várias práticas de cultura corporal como, esportes, danças,
lutas, jogos, além de conceitos sobre saúde, higiene e outros.
O esporte (Brancht, 1997) é uma atividade corporal com caráter
competitivo e transformou-se atualmente num dos principais fenômenos humanos.
Essas atividades estavam relacionadas inicialmente à religião, às colheitas e
às festas populares. A partir do século XVIII houve um processo de
hegemonização do esporte, fazendo com que assumisse características de
competição, rendimento físico e a busca da quebra de recordes. Isso por grande
influência do capitalismo, que impulsionou a divulgação de esportes e a
exibição, muitas vezes, gloriosa da imagem de um atleta. Os melhores atletas e
marcas mais conhecidas ganharam lugar em vitrines e transformaram-se em
mercadorias. Assim, os patrocinadores começam a investir com mais intensidade
nessas marcas e atletas.
Agora o esporte passa a assumir a característica de vencer e
vencer a qualquer custo. Os atletas passam a usar drogas para obter melhores
marcas. Resultado da pressão que eles sofrem, pois estão representando uma
nação. Desta forma, eles decompõem seus corpos em troca de melhores marcas.
O ser humano vem criando uma cultura ligada às questões corporais
de movimento, lazer e saúde. Segundo Betti (1993), “a cultura esportiva faz
parte da cultura corporal, que, por sua vez, é parte da cultura humana”. Não se
trata de variações das regras ou da criação de novas modalidades, mas da
inserção da mesma modalidade em contextos específicos, ou seja, uma modalidade
tem suas características distintas dependendo da região onde está inserida. Com
isso vemos que “o ser humano é fruto e agente da cultura”.
Ao analisar uma modalidade em que diversos países estejam
competindo, observa-se que cada time tem sua especificidade, devido à influência
da cultura diversificada. O mesmo acontece quando a modalidade é inserida no
mesmo local, mas em outra época. De outra forma, uma modalidade esportiva se
desenvolve e se destaca mais em uma região do que em outra, pois os fatores
socioculturais do próprio grupo praticante exerce grande influência. Como
exemplo, o Brasil é conhecido como o país do futebol.
O processo de criação e transformação de uma modalidade esportiva
dá-se por meio da manipulação de símbolos, haja vista que o ser humano atribui significado
a tudo que faz procurando solucionar suas ações, ou seja, procura dar
significado a certo objeto ou ação para não ficar alheio à situação. Assim,
significados diferentes são atribuídos, formando maneiras diversas de ver e
praticar uma modalidade.
Vê-se que o esporte é modificado para satisfazer a necessidade de
cada cultura, por exemplo, em locais com o clima muito frio dificilmente vamos
ver atletas da natação de travessia de lagoas, rios ou trajetos em mar aberto.
Também, sofre evoluções nas modalidades, já que cada sociedade se modifica com
o passar do tempo. Dessa forma novos esportes são criados para se encaixar
melhor naquela cultura. Exemplo disso é o futevôlei, que é oriundo da mistura
do vôlei e do futebol de areia.
“José Carlos Rodrigues (1987) chamou de conteúdos conotativos de
determinadas expressões culturais”, para as características identificadoras que
cada grupo exerce, pois leva em consideração o por quê e para quê daquela
prática naquele determinado local e tempo.
É essencial que o professor de Educação Física esteja bem
preparado para lidar com a diversidade que há nas salas de aula, pois o
profissional mal preparado está fadado a cometer o ato errôneo da exclusão,
fato que foi marcante na era militarista e tecnicista, onde os alunos eram
preparados para servir à pátria e ao mercado de trabalho. Assim, o educando
precisa ter uma visão mais ampla de esporte, pois os fatores que estão inclusos
no simples ato de realizar uma brincadeira, um jogo ou um esporte podem estar
formando um cidadão politicamente correto ou, quando há exclusão, um cidadão
inimigo da sociedade. Mas, além de tudo, o profissional tem que estar
consciente de seus atos e saber o quê e para quê está fazendo aquilo. Para isso
é importante que pratiquem a inclusão, mas que esteja com um conteúdo de
embasamento atualizado e conscientizado dos reflexos de seus atos perante a
sociedade.
Por fim, vê-se que, já com uma visão reflexivo-crítica, o
profissional precisa repensar seus métodos de ensino para poder acolher melhor a
todos, pois, desta forma, pode-se construir uma metodologia inclusiva
desmitificando a visão banalizada que as modalidades esportivas têm hoje em dia
e que dê frutos para a cultura social através do esporte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário