quarta-feira, 22 de agosto de 2012

RESUMO - A NECESSIDADE DE UMA NOVA CONCEPÇÃO DE ESPORTE


MARCELO GOMES GONZÁLEZ*

*Acadêmico do curso de Licenciatura em Educação Física Pela Universidade Vale do Acaraú.




A Educação Física brasileira vem se autocriticando no que diz respeito ao esporte. Já que pode ser considerada uma das áreas que estuda a cultura corporal dos movimentos e não vem se dando tanta importância dos benefícios, em sua totalidade, que o esporte exerce sobre o ser humano. Desta forma, o esporte passa a ser tratado como “fato social total”, pois engloba o contexto histórico, político e sociocultural, e não só o corporal. Exemplo disso é uma aula de futebol, onde as regras do jogo, se comparado com a vida social, dão limites às ações dos participantes, lhes mostrando, principalmente, regras, valores e penalidades.

A prática de esportes não só propicia benefícios físicos, mas também constrói valores sociais, o que implica em um melhor convívio em sociedade. As modalidades esportivas vêm se moldando a cada época. Assim, os seres humanos criam várias práticas de cultura corporal como, esportes, danças, lutas, jogos, além de conceitos sobre saúde, higiene e outros.

O esporte (Brancht, 1997) é uma atividade corporal com caráter competitivo e transformou-se atualmente num dos principais fenômenos humanos. Essas atividades estavam relacionadas inicialmente à religião, às colheitas e às festas populares. A partir do século XVIII houve um processo de hegemonização do esporte, fazendo com que assumisse características de competição, rendimento físico e a busca da quebra de recordes. Isso por grande influência do capitalismo, que impulsionou a divulgação de esportes e a exibição, muitas vezes, gloriosa da imagem de um atleta. Os melhores atletas e marcas mais conhecidas ganharam lugar em vitrines e transformaram-se em mercadorias. Assim, os patrocinadores começam a investir com mais intensidade nessas marcas e atletas.

Agora o esporte passa a assumir a característica de vencer e vencer a qualquer custo. Os atletas passam a usar drogas para obter melhores marcas. Resultado da pressão que eles sofrem, pois estão representando uma nação. Desta forma, eles decompõem seus corpos em troca de melhores marcas.

O ser humano vem criando uma cultura ligada às questões corporais de movimento, lazer e saúde. Segundo Betti (1993), “a cultura esportiva faz parte da cultura corporal, que, por sua vez, é parte da cultura humana”. Não se trata de variações das regras ou da criação de novas modalidades, mas da inserção da mesma modalidade em contextos específicos, ou seja, uma modalidade tem suas características distintas dependendo da região onde está inserida. Com isso vemos que “o ser humano é fruto e agente da cultura”.

Ao analisar uma modalidade em que diversos países estejam competindo, observa-se que cada time tem sua especificidade, devido à influência da cultura diversificada. O mesmo acontece quando a modalidade é inserida no mesmo local, mas em outra época. De outra forma, uma modalidade esportiva se desenvolve e se destaca mais em uma região do que em outra, pois os fatores socioculturais do próprio grupo praticante exerce grande influência. Como exemplo, o Brasil é conhecido como o país do futebol.

O processo de criação e transformação de uma modalidade esportiva dá-se por meio da manipulação de símbolos, haja vista que o ser humano atribui significado a tudo que faz procurando solucionar suas ações, ou seja, procura dar significado a certo objeto ou ação para não ficar alheio à situação. Assim, significados diferentes são atribuídos, formando maneiras diversas de ver e praticar uma modalidade.

Vê-se que o esporte é modificado para satisfazer a necessidade de cada cultura, por exemplo, em locais com o clima muito frio dificilmente vamos ver atletas da natação de travessia de lagoas, rios ou trajetos em mar aberto. Também, sofre evoluções nas modalidades, já que cada sociedade se modifica com o passar do tempo. Dessa forma novos esportes são criados para se encaixar melhor naquela cultura. Exemplo disso é o futevôlei, que é oriundo da mistura do vôlei e do futebol de areia.

“José Carlos Rodrigues (1987) chamou de conteúdos conotativos de determinadas expressões culturais”, para as características identificadoras que cada grupo exerce, pois leva em consideração o por quê e para quê daquela prática naquele determinado local e tempo.

É essencial que o professor de Educação Física esteja bem preparado para lidar com a diversidade que há nas salas de aula, pois o profissional mal preparado está fadado a cometer o ato errôneo da exclusão, fato que foi marcante na era militarista e tecnicista, onde os alunos eram preparados para servir à pátria e ao mercado de trabalho. Assim, o educando precisa ter uma visão mais ampla de esporte, pois os fatores que estão inclusos no simples ato de realizar uma brincadeira, um jogo ou um esporte podem estar formando um cidadão politicamente correto ou, quando há exclusão, um cidadão inimigo da sociedade. Mas, além de tudo, o profissional tem que estar consciente de seus atos e saber o quê e para quê está fazendo aquilo. Para isso é importante que pratiquem a inclusão, mas que esteja com um conteúdo de embasamento atualizado e conscientizado dos reflexos de seus atos perante a sociedade.

Por fim, vê-se que, já com uma visão reflexivo-crítica, o profissional precisa repensar seus métodos de ensino para poder acolher melhor a todos, pois, desta forma, pode-se construir uma metodologia inclusiva desmitificando a visão banalizada que as modalidades esportivas têm hoje em dia e que dê frutos para a cultura social através do esporte.

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