MARCELO GOMES GONZÁLEZ*
*Acadêmico do curso de Licenciatura em Educação Física da
Universidade Vale do Acaraú
OLIVEIRA,
Vitor Marinho de. O que é
educação física. São Paulo: Brasiliense, 2004. 113 p. (Coleção Primeiros
passos: 79).
DE HIGGINS
AO “JOGGING”
Segundo
Marinho, a Educação Física em 1911 era totalmente adestradora, pois visava a
força moral pela obediência. Características de um modelo militarista e
utilitarista. Foi introduzida nas escolas, não apenas por esses aspectos, mas,
também, em função dos benefícios que os exercícios físicos podiam trazer à
saúde do corpo.
Com esse
pensamento, o professor era visto como um disciplinador, deixando de atender às
necessidades do homem total. Por exemplo: para se ter uma boa aula de
ginástica, esta tinha que ser exaustiva. Fato que, mais tarde, faria com que as
pessoas não gostassem dessa modalidade, devido às experiências passadas.
Hoje esses
valores estão se invertendo. Talvez por causa da redescoberta do valor do
exercício ou pela indústria comercial, que mostra os benefícios do exercício
para poder vender seus produtos voltados à área. No entanto, o que muitas vezes
esquecem de mostrar é que cada um tem seu limite e que não pode passar de
sedentário a um atleta de um dia para o outro. Ainda, os exercícios físicos
também foram utilizados para direcionar massas, como manobra política. Dessa
forma o homem viria ser instrumento dos detentores do poder.
DO HOMEM
NATURAL AO HOMEM MÁQUINA
Marinho
mostra que desde os primórdios o movimento humano se destacava, pois esse ser
era dotado de uma característica particular, tinha polegar nas mãos. Fato que
ajudou a ser evidência entre as espécies, já que podia lançar objetos e se
defender com mais eficácia. Por ser nômade, o homem se utilizava muito da
velocidade, força, habilidade em natação, escalada e saltos.
Os homens
começaram se fixar em alguns locais e passaram a produzir sua própria comida
através da agricultura tiveram mais tempo para descansar, o que lhes levou ao
sedentarismo. Mas quando os nômades encontravam esses locais o combate era
desleal, pois os agressores tinham maior vigor físico. Isso levou os que
plantavam para sobreviver a dedicar seu tempo de ócio ao treinamento para futuros
combates.
A dança era
utilizada para exibir qualidades físicas, sentimentos e, até mesmo, como
preparação dos jovens para vida social. Também foi utilizada para dar
andamentos a rituais, pois perceberam que este ato os levava à alteração do seu
estado de consciência e agregado a ruídos, serviam para exorcizar espíritos.
Esses atos ganharam grande força, já que a religião era a única preocupação
sistemática na educação primitiva.
Para Marinho, “o jogo é uma das manifestações em que as crianças
também participavam, pois era uma espécie de preparação para a vida adulta,
elas imitavam as atividades dos mais velhos”.
“Na medida em que o homem entra num estágio definitivo de
sedentarização, surge uma nova concepção esportiva”. Com os jogos foi criada
uma ordem moral e social, onde os que venciam ou perdiam deveriam aceitar essa
condição. Na Antiguidade Oriental as atividades físicas passaram a ser
registradas através da escrita. Os chineses atribuíram às atividades físicas um
forte conteúdo médico através de novas modalidades. Essas também serviam para
tornar o homem “leal servidor da alma”. Foram, talvez, os fundadores do futebol
(tsu-chu). No entanto, foi no Egito as práticas esportivas eram bastante
diversificadas, pois utilizavam a luta, natação, atletismo, remo e outras
modalidades.
Platão, em A República, pregava a Paideia, “... ginástica para o
corpo e a música para a alma...”. Dessa forma houve o começo legítimo da
Educação Física, que era um ensino para preparar o físico, intelectual e
espiritual, pois considerava-se apenas homem o homem completo.
Segundo Marinho, os Jogos Gregos datam de 1200/800 a.C, e era
composto de oito modalidades: “corrida de carros, pugilato, luta, corrida a pé,
combate armado, arremesso de bola de ferro, arco e flecha e arremesso de
lança”, das quais os atletas-heróis da época participavam. Mas a aristocracia
guerreira também praticava as artes musicais e a retórica.
Por volta de 800/500 a.C, formaram-se as cidades-estados, entre
elas Esparta e Atenas. Os espartanos primaram pela formação de guerreiros e
pessoas que pudessem ser úteis. Seus filhos tinham que nascer saudáveis ou
seriam mortos logo nos primeiros minutos de vida, pois eles queriam apenas os
melhores guerreiros. Por ter esse treinamento atlético ganhavam a maioria das provas
que disputavam nos Jogos. Já em Atenas a formação não era tão militarizada e
seu objetivo principal era a formação do homem total. Sólon disse: "As
crianças devem, antes de tudo, aprender a nadar e a ler". Na época o
pedótriba, correspondente ao professor de Educação Física, era equiparado em
cultura e prestígio ao médico.
Aristóteles, com uma visão científica, via que há exercícios mais
adequados à constituição física de cada pessoa. Os exercícios praticados pelos
gregos tinham caráter natural. Seus esportes eram basicamente voltados para o
atletismo e eram praticados com o corpo nu. Marinho fala que após terem sido
dominados pelos romanos, os gregos passam a ter uma educação menos voltada para
o estético, dando mais valor ao intelectual. Com isso os atletas começaram a
especializar-se prematuramente, surge a profissionalização e a corrupção dos
atletas e juízes.
Os jovens romanos passavam por adestramento para melhor servirem
aos propósitos cívicos da sua cidade. A ginástica perdeu o sentido do belo, agora
apenas servia para demonstrar virilidade. Ludus tinha a conotação de jogo ou
treino, não implicando necessariamente em competição. Segundo Marinho, a
história romana foi escrita pela utilização do circo. Local onde gladiadores
lutavam entre si e, às vezes, que sacrifícios eram realizados para que o
público assistisse. Era a política do “pão e circo”, que organizava lutas
mortais para distração do público, que ganhava pão em cada intervalo, uma forma
de alienar a população.
Na Idade Medieval a igreja foi a única instituição que resistiu e
fortificou-se após as invasões bárbaras. Juvenal pregava o culto à alma e nada
para o corpo, fazendo com que a Educação Física fosse suprimida. Na época
medieval foi utilizada para treinar os cavaleiros, onde o físico era ressaltado
e o intelectual superficialmente repassado, haja vista que muitos deles não
sabiam ler nem escrever.
Na Inglaterra medieval os esportes que se sobressaiam eram os
coletivos, principalmente com bola. Também registrou-se a existência de
centenas de jogos infantis praticados nos feudos, denotando a irreversível
vocação lúdica do ser humano. O Renascimento representou uma nova concepção de
pensamentos sobre o mundo e o homem, antropocentrismo. Nele foi instalada uma
pedagogia liberal e sem autoritarismo.
Nessa época alguns autores se destacaram, como foi o caso de
Leonardo Da Vinci, que escreveu Estudo dos movimentos dos músculos e
articulações, um dos primeiros tratados de biomecânica que o mundo conheceu.
Rabelais defende práticas naturais para a educação e os jogos e os esportes
deviam ser explorados. Suas ideias foram fundamentadas como alicerces da
Educação Física escolas. Locke utilizaria a repressão e a disciplina das
tendências naturais, tendo como objetivo principal a formação do caráter. Rousseau
evidenciava os aspectos benéficos da vida do campo e ao ar livre, com a prática
de jogos, esportes e ginástica natural. Marinho fala que foram fundadas
escolas, na Alemanha, que a ginástica e as outras disciplinas tinham o mesmo
valor e o reconhecimento dos valores pedagógicos nos exercícios físicos
(1774-1784).
Devido a problemas posturais causados pelo excesso de trabalho
pesado e horas a mais de estudo, a Educação Física começa a ganhar mais
visibilidade. A corrente alemã, influenciada por Rousseau, dizia que a Educação
Física passaria a ser incluída entre os deveres da vida humana. Mas logo foi
interrompida pelo aparecimento do conteúdo político-patriótico. Que tinha como
lema “Viver quem pode viver”.
Na corrente nórdica, a formação de professores de Educação Física
era voltada ao tecnicismo. Como coroamento, a ginástica foi implantada nas
escolas, mas a ginástica ficou conhecida através da Suécia. A corrente sueca
pregava um modelo higienista e tecnicista, pois queriam que seu povo ficasse
livre do alcoolismo e tuberculose. A ginástica sueca era minuciosa em seus
detalhes técnicos.
A corrente francesa tinha uma educação militarista, que primava
pelo ganho de força física. A disciplina Educação Física era ministrada por
oficiais sem instrução pedagógica ou, sequer, formação. A corrente inglesa é a
única com uma orientação não-ginástica. Eles viam o esporte como um instrumento
educativo.
Pierre de Fredy lutou pela educação popular e o esporte, com
pretensão em colocar o esporte como elemento da Educação Física. Após
introduzir o esporte no sistema educacional francês, parte para outra missão:
restaurar os Jogos Olímpicos. Depois de conseguir a adesão de diversos países à
causa olímpica, convoca um Congresso internacional que definiria os princípios
do amadorismo e o ano oficial (1896) do renascimento dos Jogos. Os ideais do
fundador do olimpismo contemporâneo são ilustrados na doutrina olímpica:
"O importante nos Jogos Olímpicos não é vencer, mas tomar parte; o
importante na vida não é triunfar, mas esforçar-se...”.
Marinho fala que no século XX foram registrados os maiores
avanços, pois os artistas agora tinham liberdade de se expressar, inclusive
surgiu um sistema de ginástica, que apesar de rítmicos, não eram dança. Quando
Hitler assume o poder reinstala o ensino patriótico-social. Os ingleses tiveram os seus méritos
reconhecidos, pois viram os esportes incluídos nos currículos escolares de todo
o mundo. A maior contribuição na órbita francesa surge na década de sessenta,
quando professores de Educação Física aprofundaram-se nos estudos de
Psicomotricidade, enriquecendo os programas de Educação Física.
A EDUCAÇÃO
FÍSICA NO BRASIL
Para Marinho, a maior parte da história do Brasil é de
colonização, fazendo com que haja uma situação de subdesenvolvimento, já que
houve a transplantação de cultura. Os primeiros habitantes do Brasil, os
índios, eram dotados de grandes habilidades físicas, comparadas as dos homens
primitivos, já que ainda não utilizavam o metal, assim, vivendo como se
estivesse na era da pedra lascada. Tudo leva a crer que o remo foi a primeira
prática esportiva implantada no Brasil (1566). Com a vinda dos negros ao país,
foi criada a capoeira.
O início da história educacional brasileira se dá com a vinda dos
jesuítas. Sua educação era voltada a conversão para o catolicismo. Pela parte
da manhã trabalhavam o intelectual e pela tarde o físico, a fim de aliviar as
tensões. O ensino nos colégios era voltado para os nobres e latifundiários,
educação essa que era alienada e alienante.
Quando a família real se instala no Brasil (1808) com ela vieram
novas formas de dominação. Começa um desenvolvimento cultural voltado à
elitização, pois foi implanto o ensino superior, mas as pessoas que cursavam
não tinham nem o primário, na verdade o que queriam era apenas formar o
“doutor”. A Educação Física no Brasil teve início mais ou menos nesse período.
Os primeiros livros da área começaram a chegar ao país, também houve uma nova
estruturação no modo de ensinar, pois adotaram a educação militarista que era
passada na escola alemã, o que causou reação naqueles que viam a disciplina não
como uma forma de adestrar. Destacaram-se a medicina e o militarismo.
Por intermédio de diversas teses da Faculdade de Medicina, onde o
tema era a Educação Física. E, porque o exercício físico tornou-se obrigatório
nas Escolas Militares, o que acabou servindo como meio de divulgação das
atividades físicas. Segundo Marinho, numa época em que os professores de
Educação Física ainda usavam paletó e gravata, as recomendações de Rui Barbosa
soaram como uma verdadeira utopia, já que foi visto como um visionário, por ver
uma Educação Física que era totalmente voltada para a criticidade do homem e
não pela alienação. Assim, os professores deveriam focar-se no trabalho voltado
ao corpo e à mente.
Após a Abolição, a Proclamação da República e a sedentarização dos
jovens, surge o futebol, vindo da Inglaterra (1894), começou a aparecer em
forma de jogo, a chamada “pelada”. Além dessa monocultura, outros esportes
foram implantados.
A ginástica alemã e sueca sofreu um golpe fatal, em 1921, um
decreto aprova o "Regulamento de Instrução Física Militar", destinado
a todas as armas e inspirado na ginástica natural francesa. No ano seguinte,
uma portaria do ministro da Guerra institui o Centro Militar de Educação
Física, destinado a "dirigir, coordenar e difundir o novo método de
Educação Física e suas aplicações desportivas". Mas a portaria não chegou
a vigorar. Finalmente, em 1933, foi fundada a Escola de Educação Física do Exército,
que permitia a matrícula de professores civis. O Regulamento de Educação Física
da Escola Militar de Joinville-le-Pont foi a bíblia da Educação Física
brasileira durante mais de duas décadas.
A educação se insere agora no Ministério da Educação e Saúde,
surge a Escola Nacional de Educação Física e Desportos, integrada à
Universidade do Brasil. Entre os diversos cursos de formação de professores que
surgiram nessa época, foram ensinados por médicos e professores. Através dos meios de comunicação em
massa o futebol, natação, ginástica e outros, foram sendo divulgados.
Com a implantação do Estado Novo a Educação Física virou massa de
manobra e manipuladora de jovens. Pela
primeira vez ela aparecia explicitamente numa Carta Constitucional (1937).
Instituiu-se a "Juventude Brasileira", onde estavam inscritos
compulsoriamente todos os estudantes. Nesses
centros, a prática da Educação Física e a participação em comemorações e
desfiles "cívicos" eram fundamentais para a consolidação da ditadura
instalada.
Na década de 50, o professor Alfredo Colombo, diretor da Divisão
de Educação Física do Ministério da Educação, conseguiu desobrigar a aplicação
do superado método francês.
A vinda de professores estrangeiros começou a alterar o programa
da Educação Física escolar brasileira. Agora, o Brasil projeta-se como potência
em quase todas as modalidades no confronto sul e pan-americano. O Esporte para Todos aparece como
tentativa de democratização esportiva. Foi iniciado com a campanha
"Mexa-se" (1975), pela televisão.
O LABIRINTO
Marinho fala que a Educação Física, para os gregos, era ginástica,
pois Platão afirmava que a
Educação ideal compreendia a ginástica para o corpo e a música para a alma.
Dois séculos depois de Platão, a ginástica não possuía mais aquele sentido
grego tão abrangente, mas a abordagem médica ainda era preponderante.
Mercuriale com um pensamento higienista dizia que a execução de
exercícios físicos tinha o fim de obter e conservar a saúde e o bem-estar. No
fim do século XIX foi firmado o conceito de ginástica como racional e
científica. Conceito artificial que foi combatido pela “ginástica natural”,
pois esta última passou a ser defendida pelos professores que queriam dar um
cunho eminentemente pedagógico à ginástica, da qual se preocupava dom a
espontaneidade com que as pessoas se movimentam. O que é evidente é a íntima
ligação da ginástica com a Medicina, chegando a se confundirem.
Para Marinho, foi a partir de conhecimentos sobre anatomia,
fisiologia e outras disciplinas afins, que o professor de Educação Física
adquiriu status profissional. Ao analisar as ginásticas sueca, francesa e
alemã, encontramos sistemas que atendem o homem como um todo, sob os aspectos
físico, moral e intelectual. De um modo geral, a prática constatava uma atenção
exclusiva ao físico, em detrimento dos demais segmentos da personalidade.
Também fala que, o médico é aquele que cura e que o profissional de Educação
Física é o que previne.
René Maheu em seu trabalho "Desporto e Cultura", mostra
que o espetáculo cultural, assim como o esportivo, promove uma inteira
participação do público. Uma característica que comunga o esporte e a cultura é
o aspecto estético, pois o gesto esportivo evidencia individualidades. Um dos
maiores embaraços para entender a Educação Física na sua amplitude é a
conhecida expressão "cultura física".
Podemos definir a cultura pelos aspectos não-biológicos da vida
humana além da tecnologia, os valores morais, os costumes e as tradições de um
povo. A cultura é um comportamento aprendido. A religião em alguns momentos
inibiu a prática das atividades físicas, condicionando a evolução espiritual à
negligência de tudo que exaltasse o corpo. O jogo assume um papel que extrapola
o nível fisiológico, adquirindo uma autêntica função simbólica para os seus
praticantes.
Marinho diz que há uma deturpação do sentido real da disciplina
Educação Física, pois os alunos ao ouvirem “física”, logo assimilam como a
prática da ginástica ou algum esporte. Mas o que aqui interessa é falar do jogo
na aula de Educação Física. O jogo traduz a mais autêntica manifestação do ser
humano. Por intermédio do jogo, as pessoas aprendem a se relacionar utilizando
normas que emanam do próprio convívio, identificando espontânea e
democraticamente a necessidade da elaboração de um código de direitos e deveres.
Marinho afirma que jogo é "toda a ação livre, desenvolvida
dentro de certos limites de tempo e espaço, não fazendo parte da vida ordinária
e que, contendo algo de incerto, cria a ordem e estimula a
sociabilização". Os jogos passam a integrar os currículos escolares sem a
conotação de simples passatempo inconsequente. As atividades em forma de jogo
são as que mais podem facilitar o desenvolvimento da criança. O jogo é um
recurso metodológico capaz de propiciar uma aprendizagem espontânea e natural. Estimula
a crítica, a criatividade, a sociabilização e a socialização.
O jogo perde suas características de atividade livre, com o
aparecimento de regulamentos rígidos que vão cristalizando a sua espontaneidade
original, assim o transformado em esporte.
Em seu primeiro conceito o esporte, tinha a conotação de prazer,
divertimento, descanso. O lúdico aparece como sua característica básica, na
medida em que o esporte será sempre um jogo, antes de mais nada. Georges
Magnane considera-o "uma atividade de lazer cuja predominância é o esforço
físico, participando simultaneamente do jogo e do trabalho, praticada de
maneira competitiva, comportando regulamentos e instituições específicas, e
suscetível de transformar-se em atividade profissional".
Outro aspecto importante é a preocupação com o rendimento, pois
algumas instituições de ensino visam a descoberta e a evolução de crianças como
novas potências do esporte em detrimento dos menos aptos. Esse tipo de ensino
se encaixa com o lema olímpico: Citius, Altius, Fortius (mais veloz, mais alto,
mais forte). Essa tendência esportiva para a Educação Física atual reflete um
mecanismo baseado nos interesses político-ideológicos que caracterizam a nossa
sociedade.
Em Esparta, os cidadãos tiveram os seus corpos modelados para os
fins guerreiros O circo romano, assim como o pão, era o maior instrumento
ideológico de que se valiam os imperadores para falsear a realidade social. Os
Jogos Olímpicos da antiguidade grega eram um poderoso veículo de paz:
paralisavam guerras. Com o passar do tempo, nenhuma Olimpíada ficou isenta de
ingredientes políticos e raciais. Ao valorizar os aspectos médicos ou os
resultados técnico-esportivos de alto nível, fica mais fácil aceitar a Educação
Física como ciência. No entanto, ela fica sem valores, pois se os fatos forem
somente analisados de forma, a Educação Física perde sua essência. Não se põe em dúvida, entretanto, o
objeto da Educação Física: o movimento humano.
AFINAL, O
QUE É EDUCAÇÃO FÍSICA?
Após várias
visões do que é Educação Física, Marinho, chegando nesse ponto, fala que
autores viam o homem como uma parte corpo e mente a outra, mas também
pensamentos que viam como corpo e mente são inseparáveis. Sendo o corpo e mente
inseparáveis, o professor não deve tratá-los de forma diferente. Também,
critica a formação do profissional, pois deixam a desejar por não dar o devido
valor à criticidade que disciplinas como o estudo da Filosofia e da História
propiciam à mente humana.
Ainda, repudia a utilização de esportes e jogos como fim, já que
estes são meios de transformação de um ser melhor. O professor tem que
respeitar os níveis de maturidade motora, a capacidade de rendimento e os
interesses individuais. “São pressupostos para que a ginástica seja Educação
Física. Caso contrário, não passará de adestramento físico”. “... o processo de
desenvolvimento da inteligência humana sempre esteve em constante comunhão com
o movimento”. E que a criatividade seria a manifestação suprema de
inteligência. No entanto, o tecnicismo utilizado por alguns professores inibe a
criatividade das crianças. É o que acontece quando o professor pensa pelo aluno.
O autor exibe uma citação de Carl Rogers, que mostra como o homem
se dividiria "do pescoço para cima" (mente). No entanto, Marinho, diz
que para cima ou para baixo, o que acontece é a separação do corpo e da mente,
fato que não pode acontecer. Marinho, “precisam estar pensando e sentindo o que
realizam. É necessário que tenham a "sensação de si mesmos”...”. Se o contrário
ocorrer estará realizando uma "deseducação física".
O que muito acontece é que, segundo Marinho, a escola e meios de
comunicação formam cidadãos acríticos e submissos. A Educação Física oferece
oportunidades para a formação do homem consciente, crítico, sensível à
realidade que o envolve. Mas pode, de forma inadequada, gerar o conformista. O
autor fala que a Educação Física já foi utilizada para manipular massas de
acordo com a visão política dominante, principalmente pela característica
militarista que impunham aos alunos através da disciplina. No entanto, ela
também é utilizada para sociabilizar as pessoas. Por exemplo, através do jogo,
enquanto ação livre, os participantes têm reais oportunidades para o exercício
da democracia. Agora, não é um espaço para o surgimento de "talentos"
esportivos.
Para Marinho, “um baixo nível de expectativa faz com que a
sociedade perceba o professor de Educação Física simplesmente como um agente de
“instrução física””. Visão que vem de muito tempo, devido ao tipo de formação
que os professores recebiam, pois eram adestrados para adestrar. Agora, o
profissional está buscando sua valorização através de novos métodos de ensinar.
Assim, a sociedade os verá como verdadeiros educadores que são.
Por fim, o autor revê todos os conceitos que foram atribuídos à
Educação durante a história. O que faz refletir sobre a dicotomia Educação
Física/Esporte, já que, este último, por vezes até se opõe à disciplina,
podendo até deixar de ser conteúdo acadêmico e se transformando totalmente
técnico. Para isso destaca a realização da aula como constante movimento, o que
a distingue das demais disciplinas. Para tanto, ainda procura-se a verdadeira
essência da Educação Física escolar, já que tem sido a maior vítima da
reprodução: uma neurótica luta contra segundos e a favor dos centímetros. Para
Marinho, “a Educação Física, enquanto educação, não procura o rendimento
máximo, e sim o ótimo”. Para isso é necessário que se reflita para que, o que e
como ensinar.
Marinho destaca que, “Educação Física é Educação, na medida em que
reconhece o homem como o arquiteto de si mesmo e da construção de uma sociedade
melhor e mais humana”.
otimo
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