sexta-feira, 2 de março de 2012

RELATÓRIO SOBRE BRINCADEIRAS DE RUA


Acadêmicos: Francisney Guerreiro* e Marcelo González*
Disciplina: Metodologia dos Esportes Coletivos I
*Acadêmicos do curso de Licenciatura Plena em Educação Física pela Universidade Vale do Acaraú


Após termos observado um grupo de crianças brincando na rua, aplicamos dois questionários: um coletivo, feito com dez crianças, e outro individual, realizado com uma do mesmo grupo. Em ambos observamos um senso de coletividade muito ativo, haja vista que as brincadeiras praticadas por elas exigem conectividade entre os membros para que a brincadeira tenha fluidez.
Percebemos que em algumas crianças se destacaram o espírito de liderança, enquanto outras o papel de estrategistas; as demais cumpriram com destreza os comandos da equipe. Em suma, as brincadeiras de rua são atividades que incluem todos, democraticamente.
Também detectamos que as crianças estimulam constantemente a sua criatividade, tanto que, durante as entrevistas coletivas e individuais, apresentaram uma brincadeira até então, para nós, desconhecida, chamada “rede manchete”. Em pesquisa realizada pelo grupo, não foram encontrados registros de sua técnica de execução e nomenclatura.
Participam das brincadeiras crianças de 7 a 14 anos de idade que agem de forma sincronizada, tendo em vista dois objetivos principais: a aquisição de conhecimento empírico, informações de novas brincadeiras, e a diversão.
Devido a maioria das crianças estudarem pela manhã, as brincadeiras são realizadas entre 16h30 e 19h. As crianças que estudam à tarde também têm espaço para brincar, já que encerram o horário letivo às 17h50, englobando assim uma quantidade maior de crianças. Essa rotina é feita de segunda à sexta-feira. Mas aos sábados, domingos e feriados elas brincam nos horários independentes durante todo o dia.
Esses indivíduos estão em uma fase da vida cujos limites corporais sempre estão a prova; as crianças se “testam” o tempo todo em todas as brincadeiras utilizando-se da rapidez, força, habilidade etc.
A participação das meninas nas brincadeiras ainda é tímida, pois, na visão dos meninos elas não se encaixam em algumas atividades. O motivo, segundo os garotos entrevistados, a intensidade gerada em algumas brincadeiras, como força e velocidade, é maior do que os limites corporais que as meninas têm.
Durante a aplicação do questionário individual, uma das respostas nos deixou intrigados. Quando perguntado à criança se na escola alguma dessas brincadeiras fazem parte da aula de educação física, a criança entrevistada considerou que apenas o “tacocol” é a atividade promovida pelo professor. Achamos um desrespeito aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) atuais, já que as brincadeiras de rua estão inclusas como agente que gera integração, instiga a criatividade e aprimora a autonomia.


QUESTIONÁRIO COLETIVO

1 – Qual a faixa etária das crianças que brincam aqui na rua?
Crianças de 7 a 14 anos de idade.

2 – Quantas vezes na semana eles vêm brincar aqui na rua?
Todos os dias.

3 – Em que horário costumam brincar?
Brincamos entre 16h30 às 19h.

4 – Nas brincadeiras, qual o nível de participação das meninas?
Baixo, comparado à quantidade de meninos. Brincam conosco apenas três meninas, e em algumas brincadeiras.

5 – Qual o nome da rua em que brincam?
Rua Luiz Azarias.

6 – Qual o bairro?
Limite entre os bairros Zerão e Universidade.

7 – Quais as regras de cada brincadeira que vocês realizam?
Bandeirinha: É composta por dois times de no mínimo 4 pessoas cada. Os dois times ficam separados por uma linha que divide igualmente os dois espaços (como no futebol). No limite final (fundo) de cada campo, ficam as bandeirinhas, as quais serão protegidas por suas respectivas equipes. O objetivo principal é roubar a bandeirinha do time adversário sem ser tocado pelos integrantes deste, pois ao ultrapassar a linha central os invasores poderão ser “colados” pelos defensores. Para “colar” o adversário ele tem que ter passado para o outro lado, invadindo o campo. A “cola” acontece quando o atacante é tocado, em qualquer parte do corpo, pelo defensor. Quando “colado”, este ficará no local onde foi tocado. Para “descolar” o parceiro, os colegas terão que invadir o campo adversário e tocar no amigo, assim o salvando. Vence a rodada a equipe que conseguir apanhar a bandeirinha do outro time e trazê-la para o seu campo. Normalmente, vence a brincadeira em rodadas no sistema melhor de 3, mas sendo flexível a rodadas adicionais. (Material: dois pedaços de pano, camisa, galhos pequenos etc. para seres utilizados como bandeirinha)
Tacobol: É jogado por 4 pessoas (duas duplas). A dupla “A” fica com os tacos para rebater, enquanto a dupla “B” fica atrás dos garrafões lançando a bola para derrubar a garrafa do adversário. Ao rebater a bola, a dupla corre em direção ao garrafão do colega, no meio do caminho eles baterão os tacos um no outro. Cada batida de taco e troca de posições vale 10 pontos, sendo que ao completar 100 pontos a dupla vence. Os lançadores ao conseguirem derrubar o garrafão do adversário, trocam de lugar com os rebatedores. (Material: 2 tacos de madeira, duas garrafas PET e uma bola de papel e plástico ou bola de tênis)
Garrafão: A brincadeira é composta por um número indeterminado de participantes. Para começar é preciso que escolham a “mãe”. Geralmente começam tirando “zerinho ou um’ e depois “par ou ímpar” para escolher a mãe. Um dos integrantes jogará uma garrafa, com um pouco de areia ou pedras no fundo, o mais longe que conseguir. A “mãe” irá correr para pegar a garrafa e voltará de costas até o local de onde foi lançada a garrafa. Enquanto isso os outros integrantes da brincadeira se escondem. O objetivo da “mãe” é encontrar os colegas, sendo que ao encontrar alguém ela terá que falar onde a pessoa está e também o nome, batendo a garrafa no chão. O objetivo de quem se escondeu é correr e chutar o garrafão para o mais longe possível. Fazendo isso ele irá salvar quem foi encontrado e começar a brincadeira do ponto inicial. Quando a “mãe” encontrar alguém, disser o local, mas errar o nome da pessoa que ali está. A pessoa sairá do local e dirá “alunou” (em alguns lugares anulou), o que também reinicia o jogo com a mesma “mãe”. Encontrados todos, a “mãe” dirá quem foi o primeiro que ela encontrou, esta será a “mãe” da próxima rodada.
Pira-pega: Após escolhida a “mãe”, através de “zerinho ou um” e “par ou ímpar”, as crianças começam a brincadeira. O objetivo da “mãe” é tocar algum dos outros integrantes, que estarão fugindo. Ao tocar alguém o título de “mãe” passará para essa pessoa. Dessa forma a brincadeira só terminará quando os integrantes desistirem. (Não precisa de nenhum material)
Pira-cola: Os integrantes da brincadeira irão escolher a “mãe” para poder dar início à brincadeira. O objetivo é que a “mãe” toque em um dos que estão fugindo. Ao serem tocados os participantes irão ajudar a “mãe” a pegar os outros. Quando todos forem pegos a “mãe” dirá quem foi o primeiro a ser tocado, este será a nova “mãe”.
Queimada: Divide-se dois times ou grupos com o mesmo número de integrantes. O campo utilizado é em forma de retângulo, sendo dividido ao meio e contendo um espaço no fundo denominado “cemitério”. O objetivo é “queimar” todos do time adversário. A primeira jogada fica com quem ganhar no par ou ímpar. O grupo que ficar com a bola irá escolher alguém para arremessar e tentar queimar alguém do outro time. Será “queimado” aquele que for atingido pela bola e em seguida ela tocar no chão. Assim, o “queimado” vai para o “cemitério”. Caso o brincante seja atingido e ele ou qualquer outro colega agarre a bola, estará salvo e automaticamente mandará quem arremessou a bola para o “cemitério”. Quem está no “cemitério” também pode “queimar” o adversário, já que estará atrás do campo deste. Os colegas que ainda não foram “queimados” podem passar a bola para os que estão no “cemitério”, o que se chama de “combinar”. Vence o jogo quem conseguir mandar todos os adversários para o “cemitério”. (Material: Uma bola de vôlei, handebol ou qualquer bola feita de borracha)
Rede manchete: Divide-se dois times ou grupos com o mesmo número de participantes. O campo utilizado é em forma de retângulo, dividido ao meio por uma linha. É feito um desenho na linha que divide os campos. Esse desenho é composto por cinco pontos. Coloca-se cinco tampas de garrafa pet em cima do ponto central que está desenhado no chão. A equipe que começar a brincadeira pedirá para alguém lançar a bola para derrubar as tampas. Quando a equipe “A” derrubar as tampas, os integrantes da equipe “B” pegarão a bola, os do grupo “A” tentarão colocar as cinco tampas em cima de cada um dos pontos desenhados. Enquanto eles tentam posicionar as tampas a outra equipe irá impedir “queimando-os”. “Queima-se” o adversário jogando a bola nele. Vence o grupo que conseguir posicionar todas as cinco tampinhas em cima dos pontos. Se a outra equipe conseguir “queimar” todos os outros adversários terá o direito de arremessar a bola nas tampinhas. (Materiais: cinco tampas de garrafa pet e uma bola de vôlei, handebol ou qualquer bola de borracha)


QUESTIONÁRIO INDIVIDUAL

Nome: Dyego Rocha de Sousa
Idade: 14 anos
Escolaridade: 1º ano do ensino médio
Endereço: Rua Luiz Azarias, esquina com a 1ª Avenida do Bairro Universidade
Bairro: Zerão

1 – Mora em área de ponte?
(   ) Sim                       ( x ) Não

2 – Tem quantos irmãos?
(   ) 1               (   ) 2               ( x ) 3              Outro (       )

3 – Mora com quem?
(   ) Pai                        ( x ) Mãe         ( x ) Outros familiares

4 – Você gosta de brincar em casa ou na rua? Por quê?
Gosto de brincar na rua porque não tem graça brincar sozinho em casa.

5 – Seus pais deixam você brincar na rua? Explique?
Às vezes minha mãe deixa eu brincar na rua. Ela diz que tem muitos perigos.

6 – Seus pais já lhe ensinaram alguma brincadeira das quais pratica? Quais?
Nenhuma.

7 – Quais as brincadeiras que você conhece?
Tacobol, pira-pega, pira-cola, bandeirinha, garrafão, queimada e rede manchete.

8 – De onde tomou conhecimento dessas brincadeiras?
Aprendi todas essas brincadeiras com colegas na rua.

9 – Algum dos seus familiares pratica qualquer dessas brincadeiras com você? Quem?
Minha irmã brinca comigo só quando jogamos tacobol e o meu irmão, às vezes, quando jogamos bola.

10 – Crianças de outros locais vêm brincar aqui?
Sim, vêm crianças de algumas ruas daqui de perto.

11 – Você pratica alguma dessas brincadeiras na escola? Quais?
A única brincadeira que já realizamos na escola foi o tacobol.

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